Clever Alves Machado
A perseguição ou intolerância religiosa sempre existiu no decorrer da
História. Segunda a Bíblia, Caim foi motivado a assassinar Abel por
causa das diferenças religiosas. Caim não gostou de Deus ter aprovado
o sacrifício oferecido por Abel e de não ter encarado com favor o
seu. Caim ficou irado, e, por fim, assassinou seu irmão, conforme
relatado em Génesis 4:3-8. Visto que a Bíblia apresenta estes
personagens como os primeiros filhos do primeiro casal, Adão e Eva,
alguns têm considerado este relato como o primeiro episódio histórico
de intolerância religiosa.
No decorrer dos séculos, as principais religiões têm perseguido umas
às outras, à medida que cada uma julga ameaçado o seu controle e
influência sobre o povo ou em nome da verdade infalível, e da
salvação da alma, justificam a perseguição e assassínio de outros. Em
alguns países, os regimes políticos são manobrados pelas religiões
dominantes para conseguir o silêncio ou mesmo a eliminação de grupos
religiosos minoritários. Segundo o escritor irlandês Jonathan
Swift "temos bastante religião para nos odiarmos, mas não o
suficiente para nos amarmos."
Segundo a ONU o combate à intolerância passa, em parte, por garantias
jurídicas. O direito à liberdade de culto e o direito a não-
discriminação por motivos religiosos está há muito consagrados no
direito internacional, e muito países incorporaram-
legislação nacional como é o caso do Brasil.
Lamentavelmente mesmo tendo uma legislação que combate a intolerância
religiosa, não há no Brasil, a tolerância e o diálogo entre as
confissões religiosas. Alguns programas de rádio e televisão se
notabilizam por demonizar a religião dos outros, e divulgar que Deus
condenará quem não seguir tal Igreja ou não obedecer ao pastor de
determinada denominação. O caso mais emblemático de intolerância
religiosa é o de mãe Gilda (Gildásia dos Santos) que no dia 21 de
janeiro de 2000, teve um enfarte fulminante ao presenciar crentes que
se diziam evangélicos, invadirem e destruírem sua casa de culto
(Abassá de Ogum).
Em homenagem à memória de Mãe Gilda, Yalorixá do Terreiro Abassá de
Ogum foi decretado pelo Congresso Nacional e sancionado pelo
presidente da República no dia 27 de dezembro de
11.635, que institui o dia 21 de janeiro, como "Dia nacional de
combate à intolerância religiosa". Precisamos reafirmar nesta data
que a diversidade de idéias, convicções e maneiras de agir seja um
dom precioso, e não uma ameaça. Que construíamos comunidades mais
tolerantes, imbuídas do ideal de fraternidade, igualdade e
solidariedade.
O direito é apenas um ponto de partida, toda e qualquer estratégia
destinada a facilitar o entendimento deve dar por meio da educação, a
começar pela educação infantil. Precisamos aprender a conhecer as
diferentes religiões, tradições e culturas, para que os mitos e
distorções possam ser vistos como aquilo que são. "Ninguém nasce
odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda
por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender; e, se
podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar." (Nelson Mandela).
* Clever Alves Machado: Graduando Pedagogia pela UNIUBE –
Universidade de Uberaba, Coordenador da UNEGRO/MG, Vice-presidente
Creche Amélia Crispim, 1º Secretário do Movimento de Luta Pró-Creche –
MLPC.
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