terça-feira, 23 de março de 2010

Experiências em construir uma grande entidade

Jairo Junior *
Construir uma entidade não é fácil, além do mais quando esta entidade tem por objetivo melhorar a vida das pessoas através de ações voluntárias que permitam uma maior integração entre países.
Com a Associação de Amizade Brasil Angola, AABA, não foi diferente:

Surgida de uma constatação feita por três companheiros e amigos, que tratava da necessidade de mantermos e buscar ampliar a relação com o continente africano, em especial Angola.

Pois bem, estes personagens eram Aldo Rebelo, ex-presidente da Câmara dos Deputados, ex- Ministro de Estado e pioneiro na institucionalização da relação do nosso país com Angola, pois quando era Presidente da Câmara dos Deputados constituiu o Grupo Parlamentar Brasil-Angola e "colocou" na presidência nada mais nada menos que o atual governador de Pernambuco, que á época era Deputado federal. Aldo construiu sua militância lendo e estudando entre outros, os textos e poemas de Agostinho Neto, líder da libertação de Angola e Chefe do MPLA, Movimento Pela Libertação de Angola.

O outro personagem era o atual vereador por São Paulo, pelo PCdoB, Netinho de Paula. Cantor, compositor, empresário e apresentador de TV, talvez, dos três, o que mais familiaridade tinha com os problemas, necessidades e esperanças do povo angolano. Artista de rara sensibilidade e que enxerga nas ações originadas pela ideia de fundação da entidade, mecanismos que ampliem as possibilidades de ajuda aos "manos" de lá.
E eu, era o terceiro, que na minha formação profissional e militante sempre tive a África, seja em estudo, pesquisa, trabalho e lazer, como referência. Também admirador da luta heroica do povo angolano pela sua independência e depois por sua libertação.
Pois bem, estes, apoiados na ideia do Aldo Rebelo de criar a Associação de amizade, autorizaram-me a convidar o nosso amigo e, de longe, a principal referência brasileira em Angola e na África toda, que é Martinho da Vila.

Martinho além de agarrar com entusiasmo a idéia, contribuiu de forma decisiva pela constituição da entidade: AABA.

O trabalho que daí derivou não foi fácil, afinal a ideia era excelente mais não tínhamos nada de aporte material para começar. Mas fomos a luta. Foi autorizado de escrever uma proposta de estatuto, de logo, de composição de diretoria e regimento. E foi feito, com inestimável ajuda do Celso Sancivieiro Lousada, economista e presidente da Confederação Brasileira de Esporte Eletrônico, o advogado dr. Mafia, filho do conhecido médico do Corinthians, dr. Hélio Máfia e também do ex-árbitro José de Assis Aragão.

Simultaneamente a esta elaboração mais teórica, sim "teórica", por que tínhamos que elaborar propostas de programa, estatutos, funcionamento, etc, tínhamos que ao mesmo tempo buscar adesão para compor a diretoria.

Pois a ideia era fazer uma direção ampla, plural, suprapartidária, apartidária e que não se pautasse exclusivamente e nem explicitamente pelo combate ao racismo. A definição era constituir uma entidade que promovesse o intercâmbio e integração entre os dois países e continentes. E para isso era fundamental que envolvêssemos todos os seguimentos, empresários, políticos, esportistas, artistas e personalidades em geral.
Confesso que fiquei surpreso com o nível de adesão e receptividade da ideia. Mesmo aqueles que não aceitaram compor a diretoria demonstraram total concordância com a proposta.

E assim foi: Personalidades sugeridas como: Leci Brandão, Alcione, Aldine Muller, Jorge Aragão, Alcione, Nicole Puzzi, Lidia Correa, Roberta Miranda, Rapp Hood, Sergio Mambertti entre outros que são artista de renome e que não têm muito tempo a dedicar a reuniões planejamentos e ações executivas contribuem emprestando seus enormes prestígios a causa.

O fato de termos entre os nomes que compõem a nossa entidade como o ministro Orlando Silva, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, o professor Mourão, conselheiro do Presidente Angolano Eduardo dos Santos, o empresário e professor angolano radicado no Brasil, Fernando Mukulukússu, dão a entidade espaço, abertura e indispensáveis a nossa dura caminhada.

A excelente contribuição do Dr. Nelson Abreu, presidente da Confederação Nacional de Turismo, membro do nosso Conselho Diretivo, nos cedendo um espaço onde funciona a nossa sede nacional, foi fantástico.

E hoje após três anos de trabalho difícil, mas recompensador, comemoramos lançando o Primeiro Numero da nossa revista: "Brasil-Angola" cujo lançamento está previsto para segunda-feira dia 15 de março, as 19h00 no auditório Pedroso Horta da Assembleia Paulista, deixa-nos muito felizes.

A sensação de que embora haja muita a ser feito cumprimos bem o nosso papel é muito gratificante.

A revista que se propõe inicialmente ser bimestral, objetiva ser uma ferramenta a mais para divulgar, refletir e informar as ações que estão sendo desenvolvidas não só pela AABA, mas pelos os principais atores sociais e públicos dos nossos países.

Será um instrumento que somado ao sitio que já existe, serviram para aglutinar as pessoas que querem participar do processo e se envolver com as ações desenvolvidas de forma permanente pela Associação.

As parcerias com a Embaixada de Angola, com os Consulados do Rio de Janeiro e de São Paulo, com a representação Comercial de Angola no Brasil, com a TAAG (Empresa Aérea Angolana) com a Associação dos "Palancas Negras" em São Paulo. São fundamentais para os passos futuros.

A promoção, incentivo, divulgação e execução de intercâmbios nos terrenos cultural, turísticos, educacional, esportivo, ambiental e comercial a nossa missão e ficamos satisfeitos quando olhamos para trás e vemos o quanto que nós ja andamos, quanto que já fazemos. Mas temos plena consciência de que muito ainda há que ser feito.

Concentramos esforços para constituir em São Paulo uma "Casa de Angola" a exemplo do que já existe em Salvador e em Osasco, pensamos que tal espaço serviria para que os angolanos que habitam esta importante cidade pudessem ser reunir, debater, re-encontrar amigos e conviverem de certa forma. Serviria também para que os Brasileiros conhecessem mais sobre Angola e mesmo a África. Achamos que seria um bom dia inaugurarmos tal espaço no dia 25 de janeiro dia em que as duas cidades foram fundadas.

Angola é um país que está em processo inicial, ainda, de reconstrução. Tem um governo forte, com apoio popular. Seus lideres sabem o que querem e para onde querem ir. Têm capacidade e competência para gerir seus destinos e nós que reconhecemos suas lutas, respeitamos sua soberania, e amamos seu povo fazemos o possível que este desenvolvimento e progresso necessário se dêem o mais rápido possível e somos parceiros destes sonhos e lutaremos juntos por estes objetivos.

As nossas experiências, esperanças e alegria estarão a serviço da causa maior que é o bem estar do povo de lá e de cá, estejam eles lá ou cá.

Viva a Amizade Brasil-Angola


* Presidente Associação Brasil Angola (AABA); Diretor do Centro Cultural Africano (CCA); Coordenador do Congresso Nacional de Capoeira (CNC)

Mandela e Martinho: das vilas para o mundo

Jairo Junior *
Comemorou-se na África e em vários locais do mundo os 20 anos do fim do apartheid, sistema segracionista que perdurou na África do Sul por cinco décadas. E o marco do fim deste perverso e cruel regime foi a libertação, em fevereiro de 1990, do líder Nelson Rolihlahla Mandela. Principal representante do movimento anti-apartheid, considerado pelos povos um guerreiro em luta pela liberdade. Um herói que deu ao mundo lições de politica, resistência e determinação.
A sua perseverante luta emocionou o mundo, que até o reverencia. Talvez uma das duas personalidades mais marcantes do século passado, e que já marca também o século atual. Ao lado de Fidel Castro, líder cubano, sem dúvida nenhuma é um dos maiores líderes da nossa época.

De etnia Xhosa, Mandela nasceu na pequena vilao de Qunu, distrito de Umtata, na região do Trans kei. Aos sete anos, Mandela tornou-se o primeiro membro da família a frequentar a escola, onde lhe foi dado o nome inglês "Nelson". Seu pai morreu logo depois, e Nelson seguiu para uma escola próxima ao palácio do Regente. Seguindo as tradições Xhosa, ele foi iniciado na sociedade aos 16 anos, seguindo para o Instituto Clarkebury, onde estudou cultura ocidental.

Como jovem estudante do direito, Mandela se envolveu na oposição ao regime do apartheid, que negava aos negros (maioria da população), mestiços e indianos (uma expressiva colônia de imigrantes) direitos políticos, sociais e econômicos. Uniu-se ao Congresso Nacional Africano em 1942, e dois anos depois fundou com Walter Sisulu e Oliver Tambo, entre outros, a Liga Jovem do CNA.

Depois da fajuta e contestada eleição de 1948 dar a vitória aos afrikaners (Partido Nacional), que apoiavam a política de segregação racial, Mandela tornou-se mais ativo no CNA, tomando parte do Congresso do Povo (1955), que divulgou a Carta da Liberdade - documento contendo um programa fundamental para a causa anti-apartheid.

Mandela e seus camaradas foram obrigados a recorrer às armas após o massacre de Sharpeville, em março de 1960, quando a polícia sul-africana atirou em manifestantes negros, matando 69 pessoas e ferindo 180.

Em 1961, ele se tornou comandante do braço armado do CNA, o chamado Umkhonto we Sizwe ("Lança da Nação", ou MK), fundado por ele e outros. Mandela coordenou uma campanha de sabotagem contra alvos militares e do governo e viajou para a Argélia para treinamento paramilitar.

Em agosto de 1962, Nelson Mandela foi preso após informes da CIA à polícia sul-africana, sendo sentenciado a cinco anos de prisão por viajar ilegalmente ao exterior e incentivar greves. Em 1964, foi condenado à prisão perpétua por sabotagem (o que Mandela admitiu) e por ser acusado injustamente de conspirar para ajudar outros países a invadir a África do Sul (o que Mandela negou e nega).

No decorrer dos 27 anos que ficou preso, Mandela se tornou um símbolo da oposição ao apartheid e o clamor "Libertem Nelson Mandela" se tornou o lema das campanhas anti-apartheid em todo o mundo.

Durante os anos 1970, ele recusou uma revisão da pena e, em 1985, não aceitou a liberdade condicional em troca de não incentivar a luta armada. Mandela continuou na prisão até fevereiro de 1990, quando a campanha do CNA e a pressão internacional conseguiram que ele fosse libertado em 11 de fevereiro, aos 72 anos.

Nelson Mandela recebeu o Prêmio Nobel da paz em 1993, em uma solenidade marcada pela polêmica divisão do prêmio com o seu algoz de quase três decadas. Provocado pelo seu antecessor na entrega do prêmio, Mandela respondeu a altura, sendo ovacionado pelos presentes.

Como presidente do CNA (de julho de 1991 a dezembro de 1997) e primeiro presidente negro da África do Sul (de maio de 1994 a junho de 1999), Mandela comandou a transição de forma exemplar, ganhando respeito internacional por sua luta em prol da reconciliação interna e externa. O que não foi fácil, pois o que ocorreu naquele país foi uma verdadeira revolução, nada pacifica, muito pelo contrário. Foi cruel e cruenta, muitas mortes e provocações que foram enfrentadas de forma firme e flexivél por Mandela e o CNA, que tinha em seu seio a forte presença dos comunistas do Partido da África do Sul.

Por esta razão, comemorar os vinte anos do fim do apartheid é comemorar a vitória incontestavél da maioria sofrida e explorada do povo daquele importante país da África, que animou todo o mundo progressista em pleno apogeu da crise do Socialismo

Mas também foi em fevereiro que nasceu o nosso Martinho José Ferreira, em Duas Barras, Rio de Janeiro, em 12 de fevereiro de 1938. Filho de lavradores da Fazenda do Cedro Grande, veio para o Rio de Janeiro com apenas 4 anos. Cidadão carioca criado na Serra dos Pretos Forros, sua primeira profissão foi como Auxiliar de Químico Industrial, função aprendida no curso intensivo do SENAI.

Um pouco mais tarde, enquanto servia o exército como Sargento Burocrata, cursou a Escola de Instrução Especializada, tornando-se escrevente e contador, profissões que abandonou em 1970, quando deu baixa para se tornar cantor profissional.

Sua carreira de cantor profissional iniciou-se, na verdade, no início de 1969 quando lançou o LP intitulado Martinho da Vila, que foi o maior sucesso do Brasil em execução e vendagem, com grandes sucessos como Casa de Bamba e O Pequeno Burguês e outras que se tornaram clássicos - Quem é Do Mar Não Enjoa, Iaiá do Cais Dourado e Tom Maior.
Ai "nascia" Martinho da Vila, das vilas, dos sambas, das lutas.

Nacionalmente conhecido como sambista, Martinho da Vila é um legítimo representante da MPB, com várias composições gravadas no exterior e considerado por muitos críticos como o melhor cantor do Brasil, interpretando músicas dos mais variados ritmos.

Embora compositor indutivo e cantor sem formação acadêmica, tem uma grande ligação com a música erudita e idealizou, em parceria com o maestro Leonardo Bruno o Concerto Negro, espetáculo sinfônico que enfoca a participação da cultura negra na música erudita. Participou do projeto Clássicos do Samba, sob a regência do saudoso maestro Sílvio Barbato. Além de compositor e cantor, é escritor autor de 10 livros.

Mas a comemoração deste artigo que registra com alegria o 72º aniversário deste grande mestre que é na verdade um mito do samba e das causas da negritude. Todo sambista o reverencia e respeita, todos. Zeca Pagodinho ao grupo Revelação, do Jorge Aragão a Leci Brandão, de Alcione a Beth Carvalho e com razão, pois em um momento em que o samba era mal visto pelas elites e até por outras parcelas da população no Brasil, ele emplacou suas composições nos festivais e, a partir daí, o Brasil, ainda bem, jamais deixou de ouvir falar no Martinho da Vila.

Mas o que este humilde escrivinhador faz questão de registrar que é como militante de uma causa que este cidadão do mundo deixa exemplos em suas atitudes. Com sua música e através dela conheceu o mundo, chegou à África e lá encontrou suas origens e até hoje é figura fundamental nas lutas que travamos. Não só na aproximação do nosso país com o continente africano, notadamente Angola, mas também principalmente por alinhar sua sensibilidade poética com a nitidez de rumos. Sua capacidade artística com a consciência social.

Vida longa ao nosso Martinho, nós que somos companheiros de luta e de sonhos desejamos muitos, mas muitos anos de vida e muita felicidades.

Que a Vila Isabel, cujo samba enredo que leva a avenida é de sua autoria, seja iluminada para como de costume estar à altura de Noel Rosa e de Marinho da Vila, sempre!!! A luta continua mas nós estamos acostumados com o balanço do mar e não enjoaremos.

Axé!!!!



* Presidente Associação Brasil Angola (AABA); Diretor do Centro Cultural Africano (CCA); Coordenador do Congresso Nacional de Capoeira (CNC)

segunda-feira, 22 de março de 2010

Negros Unidos, Apartheid Vencido!

Por; Samuel Britto.

Formado em Letras e especialista em Historia da Língua Portuguesa.



21 de março de 1960, nesta data, mais um grito por igualdade e liberdade era silenciado de forma violenta numa favela sul-africana, 69 pessoas foram assassinadas pela polícia, o motivo, uma manifestação pacífica contra a leis impostas pelo regime do apartheid.Crianças e mulheres não foram poupadas, ficaram feridas, e grande parte dessas lesões ainda continuam abertas até hoje, desafiando até as bases fundamentais dos Direitos Humanos.



Apartheid, nome que soa de forma estranha, mas o seu significado é mais curioso, como se aparta raças de uma mesma formação celular e fisiológica? Nelson Mandela, líder negro e um dos maiores defensores do fim do apartheid, deu a seguinte declaração numa determinada ocasião em que presenciava mais um massacre originado pelo movimento: O homem nasce livre, com dignidades e direitos iguais, a separação acontece apenas do cordão umbilical da mãe, ou diante da morte, as demais separações são criadas da inquietude humana que insiste numa conturbada mania de organização em apartar o que nasceu pra ser junto, unido e forte. Além da desarmonia entre brancos e negros, as guerras entre etnias são realidades que vão de encontro aos fundamentos dos direitos humanos, as lutas contra essas segregações raciais continuam até hoje.



Atualmente no Brasil, a Apartheid e o preconceito étnico-racial são tratados de forma diferente, oportunidade e reconhecimento são as palavras-chaves, já que determinados grupos raciais e étnicos sempre foram impedidos de se beneficiarem dos mesmos direitos civis, políticos, econômicos, sociais e culturais comuns a outros grupos da sociedade, o governo com a ajuda de organizações e movimentos sociais levantam a bandeira da igualdade, cujo lema é, negros unidos, apartheid vencido! Essas instituições promovem ações, encontros e campanhas sócio-educativas, a UNEGRO - União de negros pela igualdade é uma destas organizações sociais que desenvolve um trabalho de sensibilização e de valorização da diversidade sociocultural. A organização atua há 22 anos se organizam em todo Brasil e nesse processo há 4 anos na cidade de Petrolina – PE.



A idéia de discriminação racial ainda existe, mas organizações como a UNEGRO viabilizam trabalhar na sociedade, trazendo oportunidades igualitárias, possibilidades de se ingressar com igualdade de direitos, por meio da inserção nos diversos espaços sociais, essa é uma forma ideal de se combater as marcas longínquas e imcompreensivas do preconceito racial. O que os defensores desse tipo de divisão, precisam entender é que Raça é definida como "um grupo de pessoas de comum ancestralidade, diferenciada dos outras por características físicas, tais como, tipo de cabelo, cor dos olhos e pele, estatura, etc" (Dicionário Inglês Collins) e Étnico é definido como "relativo ou característico de um grupo humano que tem certos traços raciais, religiosos, lingüísticos, entre outros, em comum", e que essas diferenças é que fazem o mundo ser como ele é “um celeiro de diferenças que complementa um todo por igual”.





Que essa reflexão sirva de Incentivo aos membros e população, e dizer da importância da continuidade da luta... AXE...

Att: Tiago Carvalho

Membro da UNEGRO – Petrolina