quarta-feira, 27 de abril de 2011

Festa da Lavadeira não terá shows e apresentações este ano

Publicado em 26.04.2011, às 01h03

Do NE10 (http://ne10.uol.com.br/canal/cultura/noticia/2011/04/26/festa-da-lavadeira-nao-tera-shows-e-apresentacoes-este-ano-268330.php)

A Prefeitura do Cabo de Santo Agostinho informou na noite dessa segunda-feira (25) que a Festa da Lavadeira deste ano terá apenas a parte religiosa e não irá comportar shows, palanques e venda de bebidas alcoólicas. A associação que organiza a festa informou ao NE10 que irá entrar na Justiça para realizar o evento como todos conhecem.

De acordo com a Prefeitura do Cabo, a festa acontece em uma Zona Especial de Turismo, Lazer e Moradia (ZETLM), a Reserva do Paiva e por isso não comporta instalação de palanques, som e comercialização de bebidas. “A Prefeitura do Cabo se preocupa em cumprir a lei de preservação ambiental da área, mas deseja que seja uma festa bonita, animada, mantendo suas tradições”, disse em nota Luiz Pereira, secretário Municipal de Articulação Politica e Orçamento Participativo. A decisão foi assinada nesta tarde através de um Termo de Ajustamento de Conduta.

A medida teve repercussão negativa entre os organizadores da festa. Eduardo Melo, presidente da Associação Organizadora da Festa da Lavadeira diz que a medida é elitista. "Eles não querem permitir que pobres frequentem o local. Isto está claro. A decisão é uma afronta à tradição cultural de Pernambuco", reclama. "Vamos tentar na Justiça que a festa aconteça este ano, pois uma zona especial de lazer não pode excluir a cultura de Pernambuco.

A produção não aceitou a sugestão da Prefeitura de realizar a festa na praia de Itapuama, a 200 metros do local tradicional. "Eles querem instituir que local de rico pobre não entra. Como é possível existir no Brasil uma praia separada por um muro. É absurdo", diz Melo.

A Festa da Lavadeira surgiu em 1987, quando a comunidade do Paiva decidiu fazer oferendas à escultura de uma lavadeira local, que no caráter religioso da festividade é filha de Iemanjá. Durante a festa são feitas oferendas dentro do ritual dos cultos afro-brasileiros. O evento acontece sempre no dia 1º de maio, na praia do Paiva, no Cabo de Santo Agostinho, Litoral Sul do Estado.

Defesa da Festa da Lavadeira‏

1º de Maio na Festa da Lavadeira
PLENÁRIA POPULAR EM DEFESA DA FESTA DA LAVADEIRA

HORÁRIO: 19h
DATA: 27/04/2011 (quarta-feira)
LOCAL: CLUBE DE ENGENHARIA (atrás do Mercado da Madalena)
Segue em anexo cartaz da plenária/assembleia popular e arquivo com a íntegra da lei anti-Festa da Lavadeira, o novo apratheid na moderna região de Suape!


Festa da Lavadeira não se curva ao poder da Odebrecht

Por Edilson Silva

A Festa da Lavadeira é manifestação de cultura popular que há 25 anos acontece sempre nos dias 1º de Maio. A Festa faz parte do calendário turístico de Pernambuco e é protegida por leis estaduais e municipal, que lhe conferiram a condição de patrimônio público cultural. Já escrevemos sobre o que representa esta manifestação popular para o povo pernambucano, nordestino e brasileiro, com seus mais de 80 mil visitantes em cada edição, de todo o Brasil e do exterior.

A Festa da Lavadeira acontece na praia do Paiva, onde um condomínio de luxo está sendo erguido pela empresa Odebrecht. Por isso, essa empresa quer expulsar a Festa da praia do Paiva. Para tanto, já fez de tudo, mas não conseguiu evitar que o povo corresse naturalmente para a Festa, assim como o rio corre para o mar.

Num último ato de desespero, o poder econômico desta grande empresa multinacional fez surgir uma Lei Municipal, vergonhosamente aprovada pela Câmara de Vereadores do município do Cabo de Santo Agostinho e mais vergonhosamente ainda sancionada pelo prefeito daquela cidade, Lula Cabral, no apagar das luzes do ano de 2010, mais precisamente no dia 20 de dezembro de 2010, às vésperas do Natal.

Nesta Lei institui-se um verdadeiro regime de apartheid social, somente imaginável nos mais distantes confins da nossa geografia. Privatiza-se uma praia inteira, em plena região metropolitana do Recife. Em pleno século XXI as pessoas estão proibidas de passear com seus animais de estimação na praia do Paiva. Os vendedores que ali quiserem trabalhar precisarão não só de registro na subprefeitura privada ali instalada, mas precisarão ter “irrepreensível compostura e polidez” no trato com o público (sabe-se lá o que isto significa!), ou seja, além do Código Civil brasileiro ali deve ser observado também um código de etiqueta social, caso contrário os “deseducados” terão seus registros cassados pelo poder privado investido ilegalmente de poder público.

Não acaba por aí. Qualquer “alteração” no interior da praia do Paiva, que é chamada na esdrúxula lei de Zona Especial de Turismo, Lazer e Moradia, poderá ser alvo de intervenção pela força de segurança privada que, a título de “colaboração” com o poder público, está instituída na praia do Paiva, segundo a referida lei. Para garantir que o povo se afaste mesmo do local, veículos particulares com mais de 9 metros de comprimento também estão proibidos, sendo barrados já na cancela do pedágio que protege os ricos dos pobres, ou seja, nada de excursão com farofeiros.

E se mesmo com tudo isto algum engraçadinho quiser tomar banho de mar, que não seja com bóia de câmara de pneu, pois a lei, em seu artigo 3º, Inciso I, veda expressamente esta “prática abusiva”, esteticamente condenável, mas muito comum entre os pobres que insistem em respirar e ter vida social.

Lá em seu artigo 19 a tal lei diz que é proibido fazer eventos festivos ou religiosos na área. Uma lei sob medida: É proibido fazer a Festa da Lavadeira. E foi este artigo que a Odebrecht utilizou para afirmar junto ao Ministério Público que a Festa da Lavadeira é ilegal. Um escárnio. O Ministério Público entendeu que a manifestação religiosa não poderia ser cerceada com a Lei Anti-Festa da Lavadeira. Não entendeu, no entanto, que sagrado e profano, neste caso, são inseparáveis.

Diante de tamanha agressão à Constituição Federal, que guarda vários direitos fundamentais agredidos com esta legislação municipal fajuta; diante do desrespeito às leis que revestiram a Festa da Lavadeira de patrimônio público cultural da nossa gente e, mais ainda, diante do brutal desrespeito ao povo do nosso Estado e do nordeste, a sociedade pernambucana está se levantando contra a truculência insana da Odebrecht e contra a covardia e a pequenez moral e política do poder público municipal do Cabo de Santo Agostinho, que se permitiu transformar-se em mero preposto do poder econômico, dando as costas para a sua população.

Entidades de direitos humanos, fóruns temáticos, centrais sindicais, sindicatos, conselhos profissionais, conselhos públicos, entidades culturais, partidos políticos como o PSOL, movimentos estudantis, juventudes, estão irmanados para construir no dia 1º de Maio de 2011, Dia do Trabalhador, um grande ato político-cultural na Festa da Lavadeira. Enganam-se aqueles que querem propagar o seu fim.

A Festa vai acontecer sim, com a fé redobrada, com a alegria renovada e com a tradição mais fortalecida, pois o povo vai à Festa também para dizer que o dinheiro compra muita coisa, mas não compra a força da cultura popular. Vai pra dizer que a Festa da Lavadeira não é mero entretenimento, mas espaço de resistência popular, de trincheira cultural, ponto de encontro da história, dos símbolos, da identidade de nossa gente.

Maracatus, cocos, afoxés, escolas de samba, orquestras de frevo e outras manifestações de nossa tradição não nasceram e nem se fizeram expressão popular montados em palcos. O palco do povo é o asfalto, a areia da praia, a terra molhada, a lama, o poeirão. Todos à Festa da Lavadeira! Ela é do povo!