sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Racismo: compreender para combater

por Edson França*

Em poucas palavras diria que racismo é a crença na existência da hierarquia biológica das raças, baseados nessa crença, classificam e atribuem lugar social aos racialmente inferiores ou superiores. O racismo sempre serviu a interesses sociais, econômicos e políticos de Estados e classes sociais, por isso imbrica-se na luta de classes, na luta contra o colonialismo e contra o imperialismo.

Algumas correntes de opinião em suas interpretações sobre o racismo (invariavelmente capciosas), retiram o sentido político da dominação e da luta dos povos e populações que sofrem suas conseqüências. Superdimencionam o caráter moral, psicológico e individual dos racistas. Dizem que o racismo é fruto do medo e do ódio do desconhecido. Que o racismo é uma doença moral de indivíduos. Que o racismo é falta de Deus ou de religião.

Tratam-se de interpretações conservadoras e superficiais, pois as propostas de superação desdobram em ações conciliatórias entre indivíduos sem questionar as estruturas e os atores sociais mantenedores e beneficiários do racismo, assim direta ou indiretamente defendem a manutenção do sistema social que alimenta o racismo e nunca atuam na causa.

Diferente etnocentrismo pois nesse, um grupo étnico independente da raça julga sua cultura, espaço geográfico, símbolos, religião, valores morais mais adequados ou superiores. Por isso rejeitam ou se encantam com o outro, a questão é de alteridade, de como apreender o outro na plenitude da sua dignidade, dos seus direitos e, sobretudo, da sua diferença. O etnocentrismo existe historicamente com graus variados em todas sociedades, desde as mais simples escondidas num passado longínquo as mais complexas da atualidade. Não está intrínseco o desejo coletivo de dominação de um grupo sobre outro, tal qual vemos no racismo, por isso pode-se compreende-lo sob a ótica moral e psicológica.

A gênese do racismo - em consonância com a conceituação acima - data da Idade Moderna, quando no processo de busca de novos mercados, expansão marítima, descoberta de novos mundos e necessidade de mão-de-obra barata grandes empreendedores europeus, especialmente mercadores e os que se dedicavam a empresa colonial, apoiados pela Igreja e pelos Estados então constituídos, optam pela escravização do africano nas Américas. Em razão disso necessitaram elaborar argumentos que legitimassem moral e juridicamente a escravização de um homem pelo outro.

O papa Nicolau V em 1454 autorizou o mercado escravo de africanos, dizia que o negro não era gente, não tinha alma, como tal, era legítima sua escravização. Mais ainda, desde que o batizasse, escravizar o africano era um ato de benevolência, pois o batismo tiraria os negros da escuridão e das trevas do inferno. Esse argumento foi possível em razão do poder político da Igreja e da relevância de seu posicionamento no destino da humanidade. De modo que a primeira formulação sistematizada do racismo envolveu interesses econômicos vivos e os principais atores sociais e políticos que compunham a elite mundial.

A compreensão da não humanidade do negro se estabeleceu como consenso na sociedade européia durante décadas, posteriormente, com a catequização e evangelização dos negros escravizados fragilizou a crença da inexistência da alma, pois não se batiza quem não tem alma. Mantiveram o fundamento religioso, porém a explicação sofrera metamorfose com a teoria da mancha maldita. Essa teoria pregava que os negros eram descendentes de Cam, filho de Noé que fora amaldiçoado pelo pai e condenado com seus descendentes a servidão perpétua. Em outras palavras, a escravização do negro correspondia ao cumprimento de uma profecia bíblica. Até início do século 18 não havia pensamentos estruturados que questionassem moral e politicamente a escravidão de africanos e negros.

Com a crise da Igreja e o advento do Iluminismo nos anos finais do século 18 surgem novos pensamentos. Não era possível explicar todos fenômenos físicos e sociológicos, através da fé religiosa. Chegara a era da ciência, da razão, da inteligência, fim da era das trevas e início de uma nova civilização onde o homem passa a ser o centro de todas as coisas. Tempo dos grandes enciclopedistas (Voltaire, Mostequieu, Rousseau), dos ilustrados. Início do pensamento que sustentou a Revolução Francesa e a queda definitiva do Antigo Regime.

Assim tudo foi questionado, se impõe a necessidade formular novas explicações para as práticas sociais que ainda interessavam a classe dominante. Os grandes mercadores de escravos e os grandes escravocratas precisavam justificar a escravidão através de argumentos que se adequassem a nova lógica que se impunha.

Em meados do século 19 várias correntes teóricas racistas se desenvolvem influenciadas pelo ritmo das mudanças, pelo pensamento evolucionista e pela idéia de progresso. Conde Gobineu publica Ensaio sobre a desigualdade das raças humanas, tornando-se um dos pioneiros teóricos racistas. Advoga a existência da superioridade inata da raça branca sobre as outras, no pico da pirâmide racial estaria os arianos. O pensamento de Gobineu é a base constituinte do racismo científico, a partir da certeza da hierarquia derivam novas correntes e campos do racismo.

Friedrich Ratzel, considerado pai da geografia, propõe uso prático do racismo em benefício da gana colonialista. Divide a humanidade em dois grupos: naturais e civilizados, os que eram dominado pela natureza e os que a dominavam, respectivamente. Os povos naturais deviam se conformar com a diminuição de seu espaço vital em benefício dos civilizados, era a lei de seleção natural – nunca o colonialismo e o imperialismo foi tão bem contemplado. Em 1884 e 1885, sob a liderança do Chanceler alemão Oto Von Bismarck, na Conferência de Berlim, quinze países europeus repartem entre si o continente africano – estavam convencidos que tinham direito natural ao domínio da África.

Outro eminente pensador do racismo científico foi o italiano Cesare Lombroso, fundador de um novo ramo da “ciência racista”: a antropologia criminal. Em suas obras O Homem delinqüente (1876) e O crime, causas e remédios (1899), descreve as características físicas das pessoas propensas a criminalidade, essa conclusão é fruto de longos anos de estudo de biotipos e fotos de condenados. Sua “descoberta” influencia o trabalho de aparelhos de repressão de Estados, além de influentes romancistas como Émile Zola e Anatole France. È o racismo a serviço da repressão legitimizada.

O racismo científico teve ressonância até finais do século 20, embora a extinção da escravidão estava consolidada, havia necessidade de justificar a razão das desigualdades sociais, econômicas, políticas entre brancos e não brancos. Essa fase fica para o próximo texto.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

9º encontro estadual de Coco, a partir desta quinta-feira


A partir desta quinta-feira (6), até o próximo sábado (8), acontece o 9º Encontro Pernambucano de Coco, no Centro Cultural Mestre Goitá, em Pontezinha, no Cabo de Santo Agostinho, Região Metropolitana do Recife. A festa terá a participação de 14 grupos da cultura popular, oficinas culturais, exposição de fotografias e artesanato de coco, exibição de audiovisual e muita música.

O festival é aberto ao público e conta com o apoio da prefeitura, patrocínio da Chesf, Governo Federal e incentivo cultural do Governo do Estado. Haverá apresentações de artistas como: Selma do Coco, Aurinha do Coco, Lia de Itamaracá, Samba de Coco Raízes de Arcoverde, Cila do Coco e outros. Mestres como Zezinho Varelo, Goitá e Dié já falecidos, serão representados pelos seus descendentes.

O Centro Cultural Mestre Goitá, onde acontece o evento, foi recentemente reformado e é conhecido como palanque oficial do coco.

OFICINAS
As inscrições para as oficinas de coco, percussão e artesanato estão abertas e poderão ser feitas no Centro Cultural Mestre Goitá até o dia do evento. São 40 vagas em cada modalidade.

Confira a programação do evento:

»Quinta-feira (6)
18:00h – Exposição de fotografias
20:00h – Exibição de áudio visual

»Sexta-feira (7)
10:00h – Exposição de Artesanato e Fotografias
08:00h - Shows Artísticos e Culturais com Coco do Mestre Dié, Coco do Mestre Goitá, A cocada, Dona Cila do Coco, Coco de Umbigada, Aurinha e Grupo Rala Coco e Toadas de Pernambuco.

»Sábado (8)
08h00 – Oficina de Artesanato (40 vagas)
13h00 – Oficina de Percussão (40 vagas)
16h00 – Oficina do Coco (40 vagas)
18h00 - Shows Artísticos e Culturais com Zorro de Lima, Coco Popular de Aliança, Lia de Itamaracá, Grupo Bongar, Coco Renascer, Selma do Coco e o Samba de Coco Raízes de Arcoverde.

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

UNEGRO NA MARCHA DE OLINDA


A UNEGRO SE DESTACA NA MARCHA PELA LIBERTAÇÃO DO POVO NEGRO DE OLINDA!!!!

MARCHAREMOS QUANTOS DIAS FOREM POSSIVEIS PARA LEMBRAR A LUTAR DE ZUMBI E PARA CONTRUIR UM PROJETO POLITICO PARA O POVO NEGRO

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

II Marcha pela libertação do povo negro de olinda é vitoriosa

LINK DAS FOTOS DA MARCHA:
http://www.orkut.com/Album.aspx?uid=5484990248305731448

Repercussão da Marcha em outros sites:

TERRA AZUL, ecologia , saude e cidadania.

http://www.terrazul.m2014.net/spip.php?article522

MOVIMENTO NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS, luta pela vida, Contra a violencia.

http://www.mndh.org.br/index.php?option=com_content&task=view&id=238&Itemid=56

PREFEITURA DE OLINDA

http://www.olinda.pe.gov.br/portal/noticias.php?cod=1693

CIRANDA, Ciranda Internacional de Informação Independente

http://www.ciranda.net/spip/article1858.html

ULTIMO SEGUNDO IG

http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/2007/11/20/manifestacoes_anti_rascistas_marcam_dia_da_consciencia_negra_no_pais_1086597.html

PERNAMBUCO.COM

http://www.pernambuco.com/diversao/nota.asp?materia=20071119161012&assunto=76&onde=1

PARAIBA.COM

http://www.paraiba.com.br/noticia.shtml?55761

NOTICIAS PE 360º

http://pe360graus.globo.com/noticias360/matLer.asp?newsId=110286


A II Marcha Pela a Libertação do Povo Negro, teve início por volta das 16h saíndo da praça 12 de março-Olinda e terminando por volta das 19h com um glorioso ato publico na Câmara de vereadores de Olinda.

O evento contou com a presença importante da Prefeita de Olinda Luciana Santos, vice Paulo Valença e Sec de Governo Marcelino Granja, e sua equipe como a Coordenadoria de negros e negras, Coordenadoria de juventude e Coordenadoria da Mulher, que além de se colocarem não só como autoridades, mais se prontificaram a estarem lado a lado como ativistas da luta do Povo Brasileiro.

A organização do evento contabilizou aproximadamente 500 pessoas, que não paravam de cantar que Salve Zumbi, Grande Guerreiro do Povo brasileiro.

Esteve presente ainda varias entidades ligadas ao movimento social

MEPR, MTL-PE, CAPOEIRA ABAUNA, CAPOEIRA ARTE MADIGA, CASA DA CULTURA E DA CRIANÇA, ASSOCIAÇÃO CARLOS LAMARCA, SEC NACIONAL COMBATE AO RACISMO DO PT, SECRETARIA DO OP TEMATICAS DE NEGROS E NEGRAS, ASSOCIAÇÃO DE MORADORES DE AGUAS COMPRIDAS E ADJACENCIAS, UMES, UBES, UEP ,UJS,UBM, GRUPO CULTURAL CRIANÇA ESPERANÇA, UNACOMO, FOGO, ALAFIN OYO, MNU E UNEGRO

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Salve Zumbi, grande guerreiro!


Há 312 anos o maior líder negro, que se tem notícia na história do Brasil, era brutalmente assassinado. Zumbi morreu, por defender uma sociedade igualitária e justa. Mas a sua luta permanece viva na memória de todas as pessoas que fazem parte da luta anti-racista.

Conheça um pouco da História de Zumbi, o grande líder de Palmares

Zumbi nasceu livre, em Palmares, provavelmente em 1655, e, segundo historiadores, seria descendente do povo imbamgala ou jaga, de Angola. Ainda na infância, durante uma das tentativas de destruição do quilombo, ele foi raptado por soldados portugueses e teria sido dado ao padre Antonio Melo, de Porto Calvo (hoje, em Alagoas), que o batizou de Francisco e ensinou-lhe português e latim. Aos dez anos tornou-o seu coroinha.

Com 15 anos, Francisco foge, retorna a Palmares e adota o nome de Zumbi - termo de significado incerto. O nome de Zumbi apareceu pela primeira vez em 1673, em relatos portugueses sobre a expedição chefiada por Jácome Bezerra, que foi desbaratada pelos quilombolas.

Aos 20 anos, Zumbi destacou-se na luta contra os militares comandados pelo português Manuel Lopes. Nesses combates, chegou a ser ferido com um tiro na perna.

Em 1678, o governador de Pernambuco, Pedro de Almeida, propõe a Palmares anistia e liberdade a todos os quilombolas. Segundo o historiador Edison Carneiro, autor do livro "O Quilombo dos Palmares", ao longo dos quase 100 anos de resistência dos palmarinos, foram inúmeras as ofertas como essa.
Ganga Zumba (possivelmente um título - nganga significa sacerdote, e nzumbi "possui conotações militares e religiosas", segundo Funari), então líder de Palmares, concorda com a trégua, enquanto Zumbi é contra, por argumentar que o acordo favoreceria a continuidade do regime de escravidão praticado nos engenhos. Zumbi vence a disputa, é aclamado líder pelos que discordavam do acordo e, aos 25 anos, torna-se líder do quilombo.

Ao longo da vida, Zumbi teria tido pelo menos cinco filhos. Uma das versões diz que ele teria se casado com uma branca, chamada Maria. Ao longo de seu reinado, Zumbi passou a comandar a resistência aos constantes ataques portugueses.

Em 1692, o bandeirante paulista Domingo Jorge Velho, uma espécie de mercenário da época, comandou um ataque a Palmares e teve suas tropas arrasadas. O quilombo foi sitiado e só capitulou em 6 de fevereiro de 1694, quando os portugueses invadem o principal núcleo de resistência, a Aldeia do Macaco.

Ferido, Zumbi foge. Baleado, ele teria caído de um desfiladeiro, o que deu origem à história de que teira se suicidado para evitar a prisão. Resistiu na mata por mais de um ano, atacando aldeias portuguesas. Em 20 de novembro do ano seguinte, depois de ser traído por um antigo companheiro, Antonio Soares, Zumbi é localizado pelas tropas portuguesas.

Preso, Zumbi é morto, esquartejado, e sua cabeça é levada a Olinda para ser exposta publicamente. Até hoje muitos acreditam que o líder quilombola é imortal.

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Porque Marchamos no Dia da Consciência Negra

*Edson França

No próximo dia 20 de novembro o Movimento Negro Paulista organizará a IV Marcha da Consciência Negra, programamos o início da concentração às 11:00 horas da manhã no Vão Livre do Masp – na Av. Paulista. A Marcha da Consciência Negra é uma construção histórica coletiva, herdada das lutas travadas por negros e negras desde a chegada e escravização do primeiro africano no Brasil. Por isso em todo país as manifestações públicas e todas atividades de 20 de novembro organizadas pelo Movimento Negro rememoram a ancestralidade negra através de Zumbi dos Palmares e da Consciência Negra, isso remete a capacidade dos descendentes de africanos reconhecer valores, heranças, culturas, fundamentos e aplicá-los nas diferentes situações do presente e para o futuro. Compreendemos que o Dia da Consciência Negra é um Patrimônio Imaterial do Povo Brasileiro, trata-se de uma generosa contribuição da população negra para construção da brasilidade, por isso Zumbi dos Palmares se encontra no Panteão dos Heróis Nacionais, todo brasileiro lhe deve reverência hoje e sempre. Essa vitória tem grande significado político ao Movimento Negro e para luta da população negra, pois quem tem poder de construir mito nacional, tem poder de construir a própria nação. Em outras palavras mudar o Brasil é um sonho a ser atingido com o protagonismo do Movimento Negro e não uma utopia irrealizável.

Em São Paulo a Marcha da Consciência Negra teve sua primeira versão em 20 de novembro de 2003, na ocasião compreendemos que tínhamos encerrado um longo ciclo que consistia na desconstrução do significado oficial do 13 de maio e consolidado o 20 de novembroem última instância, a construção do Dia da Consciência Negra é uma longa batalha vencida contra a famigerada teoria da democracia racial. O triunfo de Zumbi dos Palmares teve início em 1971 pelo Grupo Palmares, em Porto Alegre , quando propuseram mais valorização ao herói negro, até então, esquecido pela população brasileira. A vitória exigiu longos anos de debates, denúncias, seminários, ações de rua, além de algumas atividades de massa que repercutiram positivamente para consolidação do Dia da Consciência Negra, tais como: 1988 a grande Marcha do Centenário da Abolição no dia 13 de maio e em novembro a caravana nacional para Serra da Barriga, palco principal do conflito de Palmares e lar de Zumbi, 1995 a Marcha Nacional do Tricentenário de Imortalidade de Zumbi dos Palmares em Brasília, 2000 a caravana nacional para Porto Seguro conhecida como Outros Quinhentos – 500 anos de Resistência, Negra, Indígena e Popular, dentre outras. Voltando a São Paulo, vimos que a pulverização das atividades do Movimento Negro fragilizava a coletividade negra; a necessidade da união do Movimento Negro para uma ação de impacto conjunta; que o novo período exigia propostas e debate político público, então, definimos pela organização da I Marcha da Consciência Negra.

Para o Movimento Negro marchar em 20 de novembro é avançar na luta contra todas as injustiças que pesam sobre negros e negras, compreendemos que a única saída para população negra é o combate e não se dará sem conflitos conta aqueles que nos oprimem. Por isso nos interessa a justeza da reivindicação e da proposta, não tergiversamos e nem buscamos palavras agradáveis aos ouvidos da mídia ou de qualquer segmento que representa a burguesia dominante. Essa é a razão das sucessivas vitórias do Movimento Negro brasileiro. Contra a mídia e a elite branca racista derrotamos o mito da democracia racial; criamos organismos de promoção da igualdade racial nas três esferas de governo; revogamos a Lei da Terra de 1854 na constituição com o artigo 68 da ADCT e o Decreto 4887/03, obrigando o Estado Brasileiro reconhecer a posse das terras dos quilombolas; criminalizamos constitucionalmente a prática de racismo; avançamos na implantação das cotas nas universidades; inserimos previsão orçamentária no plano pluri-anual da união e de vários estados e municípios; aperfeiçoamos a Lei de Diretrizes e Base da Educação através da Lei 10.639/03, com essa lei estabelecemos a base legal que desencadeara uma silenciosa revolução na educação e, conseqüentemente, no Brasil.

Essas conquistas indicam que o Movimento Negro está no caminho correto, que nosso processo de construção tem solidez, respeitamos a diversidade contida em nosso interior, porém estamos imunes as ações de espertos e espertezas conjunturais, palavras bonitas, cartas na manga e outros truques que aparecem no processo político. Faço questão de reiterar nosso propósito de que a III Marcha da Consciência Negra sempre foi ampla, desde sua concepção, pois fizemos questão de envolver juventude, a capoeira, as escolas de samba, o Hip Hop, as religiões de matriz africana, os evangélicos, e membros de todas as religiões, os estudantes e empresários e empreendedores - militantes ou não de Partidos e ou organizações e entidades. (...) participação de todos os setores anti-racistas da sociedade, negros ou não sob o tema”. Quem leu ou ler os materiais das marchas anteriores constará o caráter amplo da Marcha da Consciência Negra, mobilizamos entidades comunitárias, pois sabemos que é nas comunidades, especialmente nas periferias que se encontram a população negra, por isso orgulhosamente recebemos movimentos populares do Capão Redondo, Jd. Ângela, Cidade Tiradentes, Perus, etc. Compomos com os trabalhadores, sabedores que é na relação capital & trabalho que se acentua o racismo, através da CUT que altruísticamente abriu mão de sua tradicional Marcha do Sorriso Negro, da CGT que se envolveu inteiramente na Marcha e de vários sindicatos, como o Sindicato dos Metroviários que divulgou vários dias nas estações do metrô a Marcha da Consciência Negra com materiais que confeccionaram. Não vou me estender a cada segmento citado, apenas tentei corrigir falas inapropriadas, ou melhor, mentirosas sobre o sentido da construção da Consciência Negra expresso nas marchas. Nunca as organizações e ativistas do Movimento Negro que se envolveram na Marcha da Consciência Negra restringiram a participação apenas para negros, ao contrário, sempre buscamos outros segmentos sociais e étnicos, entendendo que o racismo não é um problema de negro, mas do Brasil.

Por fim, a III Marcha da Consciência Negra de São Paulo acatará a definição das políticas que a Assembléia Nacional do Conneb indicar, como forma de estabelecermos uma fala unificada do Movimento Negro em âmbito nacional. Somos e seremos sempre intransigentes na defesa da unidade do Movimento Negro, concebemos a unidade como um fundamento essencial para o avanço político e social das negras e dos negros brasileiros, acreditamos que a unidade da III Marcha da Consciência Negra se dará nas bandeiras que defenderemos, na divisão do protagonismo político, no respeito as diferenças políticas e ideológicas e na compreensão que o dia 20 de novembro é reservado ao nosso líder maior Zumbi dos Palmares, à Consciência Negra e a todas as mulheres e homens que nos legaram essa luta. Sem respeito a ancestralidade não há possibilidade de vitória dos negros na África ou na diáspora, resistiremos qualquer racista ou colaboracionista (consciente ou inconsciente) que tentar profanar a herança que recebemos de nossos avós.

*Edson França – Coordenador Geral da Unegro