Ao longo dos seus vinte anos de existência a UNEGRO vem se somando às diversas iniciativas do movimento negro de reivindicar os direitos da juventude negra, de cobrar a responsabilização do Estado brasileiro para com esta parcela da população e de denunciar insistentemente a ação discriminatória deste mesmo Estado que através das suas instituições têm promovido sistematicamente a execução sumária da juventude negra. A criminalização da juventude negra, a falta de acesso aos níveis da educação, a invisibilidade na mídia, o extermínio cotidiano de jovens homens negros nas periferias das grandes e médias cidades de todo o Brasil, além de outras formas de extermínio sobre o conjunto da juventude negra, a exemplo do racismo institucional, são exemplos que vivenciamos todos os dias.
Para combater todas as formas de discriminação, preconceito e racismo que se abatem sobre a juventude negra a UNEGRO sempre apostou na unidade do movimento negro e do movimento social em geral, em torno de uma pauta política comum que viesse a superar o quadro desolador que ora se apresenta. Essa unidade nunca pode ser confundida com homogeneidade ou homogeneização, ela precisa preservar a diversidade de concepções, trajetórias, pensamentos e formas de ação das diversas organizações. Prova histórica disto é a nossa presença em diversas articulações nacionais e internacionais do movimento negro, e da juventude em especial, em torno de uma agenda comum, seja na construção do I ENEN em 1991 que resultou na formação da Coordenação Nacional de Entidades Negras (CONEN), seja nas articulações dos diversos encontros internacionais de combate ao racismo como a Conferência das Américas, a III Conferência Mundial Contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerâncias Correlatas, em Durban 2001, nas várias edições do Fórum Social Mundial, nas Marchas Zumbi dos Palmares em 1995 e Zumbi +10 em 2005, na construção da I Conferência Nacional de Políticas de Promoção da Igualdade Racial em 2005, no Congresso Nacional de Negras e Negros do Brasil ou mais recentemente na construção do I Encontro Nacional de Juventude Negra em 2007 e na I Conferência Nacional de Juventude realizada em abril deste ano em Brasília.
Consciente da necessidade de uma articulação sólida entre os diversos pensamentos da juventude negra a UNEGRO sempre se fez presente nas etapas de construção de uma articulação de juventude negra no país desde o início, por isso vem a público manifestar o seu descontentamento com os rumos assumidos por este processo materializado na realização do ENJUNE em julho de 2007 na Bahia, nos espaços de representação homogeneizado e na presente Assembléia Nacional do Fórum Nacional de Juventude Negra (FNJN). Sabemos da diversidade de organizações da juventude negra que compõem esta articulação nacional e entendemos que essa mesma diversidade precisa ser respeitada em qualquer construção política avançada. Durante todo o processo de construção do ENJUNE colocamos essa reflexão de todos e todas que compunham aquele espaço e, pelo que aconteceu na plenária final do ENJUNE ficou mais do que visível o descontentamento de uma parcela importante da juventude pela condução hegemonista, antidemocrática, impositiva e desrespeitosa à diversidade das opiniões que se encontravam naquele espaço. O resultado disto foi uma plenária final esvaziada, dividida e com cenas lamentáveis.
Infelizmente a oportunidade de superar essa cisão não ocorreu no processo de construção das plenárias preparatórias para a Assembléia Nacional do FNJN este ano. O combate às opiniões diferentes e não o respeito a estas, a imposição de opiniões e não a construção de consensos, a sabotagem impedindo o envolvimento de determinadas entidades e organizações, o questionamento de delegados legitimamente eleitos apenas pelo fato de não se alinharem à pretensa maioria foram marcas também deste processo. A que se chegou, então? Vimos em grande parte dos estados, em plenárias estaduais que pretendiam reunir a juventude negra para debater as formas de organização da mesma a presença de 30, 40 ou no máximo 50 pessoas como ocorreu na Bahia. Esse esvaziamento é sintomático e não achamos que essa seja a condução mais correta para um processo que pretende atingir o conjunto da juventude negra.
Portanto, após insistentes tentativas do respeito à diversidade de concepções e à pluralidade das organizações da juventude negra, a UNEGRO se retira deste espaço, pelo fato de o mesmo não contribuir no sentido do que já foi acumulado pelo movimento negro em toda a sua trajetória, em particular nas últimas décadas, no que toca à capacidade de aglutinação de amplos setores da juventude negra, ao respeito à diversidade de concepções e pensamentos, à pluralidade das manifestações e formas de organização e à possibilidade de construção de opiniões baseadas nos processos democráticos de escutar o diferente, o diverso, de se apropriar de alguns elementos e de negar outros, mas nunca tendo por base à exclusão de determinados segmentos à priori.
Por uma articulação da juventude negra verdadeiramente ampla, democrática, que respeite a diversidade e a pluralidade da juventude negra!
REBELE-SE CONTRA O RACISMO!!!
UNEGRO 20 ANOS!!!
Ângela Guimarães
Coordenadora Nacional de Juventude
(BACURAL)
João Raymundo
Coordenador Estadual Juventude
unegro_pe@hotmail.com
http://unegro-pe.blogspot.com
www.unegro.org.br
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